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Orquestra Criança Cidadã de Pernambuco toca pela paz no Vaticano

Músicos brasileiros se unem a russos, ucranianos e italianos para concerto com o Papa Francisco

Por Evandro Lira

 

Roma, Vaticano — Cleberson Vinicius, um dos 25 jovens da periferia do Recife que compõem a Orquestra Criança Cidadã, chegou ao Vaticano a passos largos carregando um contrabaixo, um violino de uma colega e uma mochila. Entrou na Basílica de São Pedro confiante de que o Concerto pela Paz ficaria marcado na sua memória: “Isso tudo tem uma importância grande na minha vida. Não é todo dia que se toca para o papa, não é?”, orgulha-se o adolescente de 14 anos.

A iniciativa da Charis Internacional e Obra de Maria contra a insensatez das guerras também emocionou o líder máximo da Igreja Católica: “Esses jovens estão fazendo um grande esforço em prol da paz. A guerra destrói tudo. Ela tira a humanidade, destrói a humanidade”, discursou o pontífice para mais de 6 mil pessoas, em mais uma mensagem em defesa do cessar-fogo nos conflitos.

A constatação do papa sobre o esforço dos jovens para chegar até o Vaticano não se resume à peregrinação dos músicos até ao Vaticano, aos ensaios, mas à quebra de paradigmas e respeito às diferenças e diversidades de alguns deles ao se juntarem para defender o fim da guerra. Russos, ucranianos, italianos e brasileiros se uniram na celebração pela paz. Um casal de violinistas, a jovem russa Zlata Synkova e o jovem ucraniano Aleksandr Puzankov simbolizaram essa união, ao fazerem o solo no fim da apresentação de ontem.

Mensagem

Nesse sentido, João Targino, um dos idealizadores e coordenador-geral da Orquestra Criança Cidadã, explicou em discurso para o papa, que a proposta musical, independentemente de posicionamentos a favor de um ou outro país, é um convite à reflexão. “Os concertos propostos em comunhão fraterna entre músicos brasileiros, italianos, russos e ucranianos pretendem afirmar a mensagem de que, na arte, não há guerra. É necessário sublinhar que os Concertos pela Paz não têm como objetivo julgar se há razão ou direito nas contendas pertencentes a um ou outro país”,  ressaltou Targino.

A chegada do papa foi apresentada ao som de Messias, do alemão Georg Friedrich Händel. O Papa Francisco não só fez reflexões sobre a guerra, mas aproveitou pra pedir unidade à própria igreja. “Não existe um mais carismático do que outro” , referindo-se ao movimento Renovação Carismática, organizadores do evento.

Depois da fala do papa, o concerto foi retomado com No Reino da Pedra Verde, do pernambucano Clóvis Pereira, uma das peças do Movimento Armorial, fundado por Ariano Suassuna. Na sequência, o papa passou em meio à orquestra e desceu ao nível da plateia para cumprimentar os presentes e se despedir. A apresentação musical teve ainda o prelúdio de Bachianas brasileiras n° 4, de Villa-Lobos, Oblivion, Erbarme dich Mein Gottp, com solo ao violino de um ucraniano e uma russa; Aquarela do Brasil e, finalmente, Por una cabeza, tango escolhido em homenagem ao Papa Francisco, que é argentino.

Na plateia, estiveram cardeais, bispos, representantes do Vaticano, jovens, autoridades, políticos e empresários do Brasil e do exterior. O cardeal Kevin Farrell, o fundador da Comunidade Obra de Maria; Gilberto Barbosa, e a CEO da Fundação Cavalsassi, Elena Pascale, foram alguns dos presentes.

Os Concertos pela Paz foram executados no Vaticano na sexta-feira e ontem, sob regência de José Renato Accioly e Lanfranco Marcelletti, encabeçados pela Orquestra Criança Cidadã, do Recife, em parceria com a Fondazione Calvasassi, da Itália. Ao longo dos últimos meses, foi somado aos preparativos logísticos o desafio de reunir representantes da Rússia e Ucrânia, rivais em um conflito bélico desde fevereiro do ano passado, com a estimativa de cerca de 200 mil mortes.

Carreiras

A Orquestra Cidadã foi criada em 2006 no Coque, um dos bairros com mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano do Recife. Os alunos recebem não somente aulas de instrumentos de cordas, sopros e percussão, teoria musical, flauta doce e canto coral, mas também apoio pedagógico, atendimento psicológico, médico e odontológico, aulas de inclusão digital, três refeições por dia e fardamento. Dos 700 jovens atendidos ao longo dos 18 anos do projeto, vários seguiram a carreira artística, como o contrabaixista Antonino Tertuliano, atualmente mestrando na Universidade Munique.

Para o maestro José Roberto Accioly, “a principal mudança que se constata nesses jovens são alguns valores, como a disciplina, a solidariedade e a consciência de que sozinho a gente não faz um trabalho que tenha expressividade, que tenha consistência. Então, é esse trabalho em conjunto e essa consciência de que o conjunto da sociedade é que faz a melhoria da qualidade de vida, tanto a qualidade de vida material como a qualidade de vida emocional”, destacou.

 

Fonte: Correio Braziliense

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